Como 13 Reasons Why ferrou com a minha cabeça

Todas sofremos assédio. Todas sofremos assédio todos os dias. E todas conhecemos ou somos alguém que já sofreu uma violência de fato. A gente cala. A gente não leva adiante. A gente finge levar a vida adiante com essa história guardada numa caixinha bem lá no fundo, que acessamos vez ou outra, às escondidas, com a culpa de termos sido violentadas. Com a culpa de saber que alguém foi e não ter feito nada. Paralisia. Normatização da violência. Todas nos calamos.

Não importa o quão desconstruídas somos. Quando bate à porta, simplesmente não sabemos o que fazer. E, quando fazemos, temos toda uma sociedade para nos julgar, perguntar “como você se colocou nessa situação”? A Sheri, no seriado, diz uma das melhores frases: “sério que você está perguntando isso? Uma garota não se coloca nessa situação, ela só está lá se divertindo. Os caras criam essa situação”.

A série fala de bullying como um todo, de violências diversas – LGBTQ+, mulheres, nerds, pseudopunks e mais. E ferrou com a minha cabeça. Nada que você não veja todos os dias por aí. Nada que a gente não ouça casos na internet, leia notícias no jornal ou crie vídeos no Youtube. Nada mais absurdo que um cara se masturbando no ônibus em cima de uma mulher e sendo liberado pelo juiz – ah! Não! Espera! Isso não foi na série, foi em São Paulo.

Quando a Jout Jout chama as mulheres a fazerem um escândalo, ela não está sendo nazi ou emocional demais. Quantas mulheres aqui já se sentiram acuadas nas mais diversas situações? Em momentos recentes, eu estava em ambiente de trabalho e precisei dizer para mim mesma que era totalmente normal um senhor que eu não conhecia colocar a mão na minha perna enquanto a gente conversava sobre o mercado. Eu nunca expus isso a ninguém. Eu tive muita vergonha e era “só” uma mão desconhecida na minha coxa.

Imagine ser violada sexualmente. Principalmente quando é por alguém que você confia, ama e acredita. Imagine quanto tempo isso não fica rondando a sua cabeça e dizendo: a culpa é sua, você fez por merecer, quem mandou tomar cerveja?. Não é simples, não é fácil.

E não são as mulheres que precisam se proteger dos caras. São os caras que simplesmente não precisam fazer isso. Não devem. Consentimento é algo bem simples de entender: eu digo se eu quero e eu digo se eu não quero. Se eu não digo nada, não faça. Posso simplesmente estar paralisada. Não sou uma donzela, princesinha que não sabe dizer quando quer transar ou quando quer que você encoste em mim. Nesse ponto, é importante frisar: parem de criar suas filhas como princesas! Elas precisam conhecer o próprio corpo, saber o que querem, o que não querem e até onde permitem que outra pessoa avance.

E, por favor, não deixemos de fazer um escândalo. Precisamos internalizar isso até pararmos de ficar paralisadas diante de situações constrangedoras. “Tire a mão da minha perna” – é o tipo de frase que não pode ficar só no pensamento. A gente ainda tem muito a desenvolver nesse sentido. E não tenhamos vergonha de denunciar os agressores, na hora que acontece. Vamos conversar mais. Umas com as outras. E, juntas, fazermos algo por nós mesmas.

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