ENTREVISTA: Leticia Sábio entre tarô, casamento e Sandy & Junior

São Paulo tem tantas opções de shows, passeios e eventos de todos os tipos, que sobreviver aqui de música é uma loucura diária e imprevisível. Uma das pessoas que deixou de lado a estabilidade de um escritório para entrar na empreitada é a Letícia Sábio. A cantora lançou o disco “Hortelã” e seguiu com inúmeros projetos cheios de talento.

Crescida nos anos 90, ela agora resolveu resgatar a década e criou um show todo delicado e cheio dos hits que você vai começar a cantar na cabeça assim que eu disser o nome do tributo: Sandy e Junior [documentário no fim do post]. “Você desperdiçoooou”… “Se a Lenda dessa paaaixãoooo”… Cantou, não cantou? Vai rolar dia 16 de junho e estarei no gargarejo atrapalhando a cantora com minha bela voz. Para saber mais, clique aqui e dá uma lidinha na entrevista que fizemos.

Você já quis ser amiga da Sandy? [Eu já].
Sim, super! Inclusive quando eu era criança e pré-adolescente, eu sonhei várias vez que ela fazia parte do meu grupo de amigas da escola, eu tinha quatro melhores amigas ela era a quinta. Em um dos sonhos eu desabafava com ela, contava segredos hahaha. Até hoje eu sinto que ela ainda vai ser minha amiga.

O quanto tudo isso influenciou sua personalidade musical hoje?
Eu sempre fui uma menina romântica, tinha amores platônicos na escola, chorava de amor (peixes com ascendente em peixes e mercúrio em peixes, né? Haha) e as canções deles acalentavam o meu coraçãozinho romântico. Além de todo esse repertório romântico, a voz da Sandy dava certinho no meu tom de voz, então era delicioso cantar sozinha em casa todas aquelas canções.

Mas, quando eu penso na minha herança musical, coisas que cresci ouvindo, Sandy e Júnior era definitivamente destoante. Eu cresci ouvindo MPB, meu pai tinha pilhas de discos de vinil e de CDs de artistas como Fagner, Zé Ramalho, Amelinha, Raul Seixas, Cassia Eller, Gal Costa, Caetano, Gil, Marisa Monte e eu ouvia e cantava todos eles. Eu acredito que eu tenha uma boa mistura de influências musicais, mas S&J, até por conta do meu momento pré-adolescente romântica, dizia tudo o que eu queria dizer naquela época rs.

Você acha que chegou naquele ponto que a cultura dos anos 90 vira Cult e a galera perde a vergonha de assumir o que gostava?
Eu acredito em um conjunto de fatores. Nós estamos vivendo um momento em que as pessoas estão realmente falando tudo o que pensam, dialogando e sendo transparentes nas redes sociais, “porque ali você pode ser sincero, que ninguém vai te julgar”… Não, espera… hahaha. Outro ponto é que a galera que era pré-adolescente nos anos 90 está bem adulta agora e, quando a gente vira adulto, não tem vergonha das coisas e fica com espírito de nostalgia diária. Claro que deve ter vários outros fatores que eu não saberia explicar, mas que a cultura dos anos 90 agora tá ficando cult, isso é real e só o campo mórfico poderia explicar.

Você já teve vergonha de gostar de alguma coisa?
Acho que não. Eu gostava quando as pessoas me zoavam por gostar de Sandy e Júnior, era o meu momento de lembrar que eles já desceram na boquinha da garrafa hahaha, eu achava engraçado tudo isso. Quando eu realmente me irritava com as zoeiras, falava a minha lista de motivos que me levavam a gostar deles, aí a pessoa ficava com vergonha, porque eu estava falando sério.

Além deste show maravilhoso, você tem um disco autoral lançado, um projeto de música pra casamento, trabalha com marketing, tarô e astrologia. Como dá conta?
Eu definitivamente não sei como eu dou conta, são 23h45 e eu estou aqui respondendo essa entrevista e, segundos antes, eu estava respondendo e-mails. Eu até gosto de estar com a agenda cheia, mas eu acho que eu só faço esse monte de coisa porque eu não consigo gostar de uma coisa só. Então, de um lado eu ganho dinheiro, de outro eu faço o que eu amo dar dinheiro e, do outro, eu faço coisas que eu gosto mesmo sem ganhar dinheiro, porque seria muito triste não fazê-las.

Tem disco novo em vista? Ou pelo menos alguma música?
Disco novo, por enquanto não, mas músicas novas sim. Tenho algumas que eu escrevi depois que lancei o “Hortelã”. Então, neste momento, estou gravando o single “Um Cabideiro a Mais” e a intenção é lançar com clipe.

Com quem você queria cantar? Pode brisar 🙂
Nossa, com a Sandy seria pedir demais? Haha Mas eu queria cantar também com a Marisa Monte, com o Arnaldo Antunes, com o Jeneci e com um menino que conheci esse dias e é a coisa mais maravilhosa da vida, chama Rafinha Acústico ❤

Qual foi a sua catarse musical até o momento?
Tudo o que eu aprendi até agora e principalmente sobre mim foi a maior catarse. Esses dois últimos anos foi a maior catarse, pois o universo musical é imenso e só ser artista ou só ser cantora e compositora não é suficiente para que você possa ser inserido profissionalmente nesse mercado. Existem milhares de cenários possíveis para que você trabalhe com música, qual você vai escolher? Entre ser um empreendedor ou não, entre trabalhar com entregas ou não, entre dar aulas ou não, entre ser freelancer ou não… Nossa! São infinitas possibilidades. E entender aonde eu me encaixo dentro desse universo infinito: essa para mim foi a minha maior catarse.

O que a vida profissional tem pra você este ano, segundo suas interseções holísticas?
Minha trajetória profissional tem sido intensa nesses últimos dois anos – com a minha saída do mundo corporativo, minha formação musical e minha experimentação no universo autoral. Este ano, holisticamente falando, eu sinto que estou mais no meu caminho, com objetivos mais conectados com o meu propósito e com os meus valores. O meu projeto de música para casamento, o Música de Jardim, tem ganhado cada vez mais espaço dentro de mim e tem sido bem recebido pelo mercado (e pelo Universo). Sem dúvida ele é o meu foco profissional neste momento.

O que mais doeu na música?
O que me dói até hoje é ver que o produto musical, o produto cultural em geral, ou é idolatrado ou é tratado como lixo. O Brasil não vê o valor da cultura, só vê o valor do status. Somente a fama é valorizada. O artista é detentor do maior potencial de uma sociedade, que é base e a riqueza dela, a cultura. Nosso país (e muitos outros) não utiliza a cultura da forma correta simplesmente porque ela tem um valor intangível e isso não tem valor para a maioria, ou melhor, ainda não perceberam o valor.

O que mais te sorriu na música?
O que mais me sorriu na música é ver que, quando conseguimos ver a poeira da competição e da dor de não dar certo abaixar, enxergamos apenas o que é, na sua forma mais pura: pessoas querendo expressar suas dores, suas glórias e seus amores. Isso é lindo demais, porque a música em sua forma mais pura é amor.

Fofa, porém ferozmente produtiva. Essa dicotomia te deixa louca?
Assim que eu saí do mundo corporativo eu desacelerei drasticamente, embora eu não quisesse, mas eu precisava me entender, precisava descobrir o que eu queria fazer profissionalmente a partir daquele momento. Eu vivi dez anos no mundo corporativo e ser produtiva/ ter metas já fazia parte de mim, mas eu queria alcançar metas que eu não estava emocionalmente preparada para alcançar naquele momento, então eu precisei desacelerar.

Com o tempo, eu fui entendendo aonde eu queria estar profissionalmente (e ainda estou entendendo haha). Percebi que ser ferozmente produtiva fazia parte de quem eu era também e que isso não era algo ruim (como um doença que eu peguei no mundo corporativo haha), era algo que me pertencia. Eu queria ser empreendedora e eu queria cantar o amor… E tudo isso que eu queria me fazia ser ferozmente produtiva e fofa. E essa dicotomia antes me deixava louca, mas agora eu lido bem melhor, porque essa dualidade é quem eu sou e não tem como negar quem somos, né?

 

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