Esta é uma história melada

*Foto: Pedro Lougan

Dizem que, quando as almas gêmeas se encontram, elas vivem grandes aventuras e provações. Eu já vivi muitas provações com alguns namorados, mas a diferença de ser extensão de alma de alguém é que, quando é a pessoa certa, os desafios em volta só reforçam a parceria e aquilo que um tem pelo outro, a começar pelo carinho, cuidado e respeito.

A gente começou na sofrência, literalmente. Ambos de corações dilacerados
tomando aquela cachaça de nome sugestivo – sim, Sofrência – e dançando É o
Tchan em uma festa de casamento que ficou para história. Um ano e meio depois, seria o nosso.

Naquele dia mesmo, o frio na barriga tomou conta, o sorriso fixou no rosto e o beijo… Ah! O beijo! Intermináveis beijos a cada parada no farol. Uma cola inexplicável que não poderia ser lavada. Aumentou. Colou mais. Virou o casal “que está assim porque é o começo”. Os mesmos gostos, um equilíbrio de forças, um apoio mútuo. Tudo isso leve, livre e grudado. A loucura tomou conta do nosso espaço da maneira mais pura que poderia.

Aí teve a primeira festa de família, onde eu nem sabia o que vestir ou como falar. Veio a foto. Aquela foto que tirou a paz, mas trouxe força. Aquela foto que foi xingada, cuspida e virou uma longa história. A certeza do que se vivia era tanta, que o espaço foi respeitado: se quiser que eu vá, eu vou. Mas ele nunca quis. A gente sempre soube que havia se encontrado e que aquilo não poderia mais se perder. Era a melhor coisa, pela qual nunca tínhamos passado. Era o pote de ouro no fim do arco-iris e seríamos melhores enfrentando as coisas da vida juntos.

Críticas, julgamentos. Lágrimas, gritos. Paciência, perda de paciência. Um ponto final. Os pontos finais são maravilhosos, porque permitem que histórias continuem em um novo parágrafo, em um novo capítulo, em um novo mundo.

Meu ascendente em peixes e minha cigana espuleta não me permitiram sentir menos. Ouvia, via, sentia, sonhava. Conexões que eu não queria acabaram sendo criadas pela frequência energética e cortar esses barbantes interligados não foi exatamente uma das coisas mais fáceis de fazer – pneumonia. Sara pneumonia, asma se instala por meses. Passou. Casei. De branco, de tênis, de lambreta, com quadro de mulher armada no fundo das fotos. Exatamente como eu nunca imaginei. Tudo torto, tudo diferente, tudo  com um amor que eu nem sabia que poderia sentir. E ainda há quem tente explicar o amor. Prefiro nem me arriscar.

Liberdade. Finalmente, laços não queridos desfeitos. Segue o amor, ainda mais forte. E as tomadas de decisão para evolução. Novas críticas, novos julgamentos. Chantagens emocionais intensas. Cada lágrima dele se tornou minha. O egoísmo de quem se diz amigo se materializando de maneira maldosa, com coração cheio de rancor. Mas tinha o outro lado. Sempre tem o outro lado. Para cada coisa ruim desejada, um leque de abraços bons energizando a rotina.

Foi assim no casamento. Mesmo que, depois do altar, eu tenha enfrentado a tradicional família brasileira machista mandando eu passar a lua de mel no alojamento sem terra, enquanto fazia check-in no hotel. Mas os abraços que eu tinha recebido ainda estavam vivos em torno de mim. Foi assim nas últimas 75 milhões de despedidas. Mesmo tendo quem dissesse, com todas as letras, que desejava que a gente não conseguisse alcançar nosso objetivo. Mas, os abraços… Ah! Esses abraços que sempre estão ali, no mesmo lugar, amando e protegendo.

Seguimos com nosso caminho. Fazendo o melhor que podemos e sem querer prejudicar alguém. Se você está lendo isso e deseja o melhor, desejo em dobro. Se você deseja o pior, te de desejo amor. O amor é a maior força construtiva. É real. De dentro pra fora. E nada nem ninguém podem contra ele.

Chegamos a Europa. E, daqui, narramos nossas novas aventuras. Boa sorte para todos nós, que assumimos o movimento da vida e os riscos que ele traz. Afinal, só se molha na chuva quem sai de casa. Sua vida é e sempre será uma consequência das suas escolhas. Você também pode optar pelo ambiente controlado e seguro, mas terá vivido todo seu tempo dentro de um quarto fechado. Entenda, isso não é um problema – somente uma escolha.

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