Não é segredo pra ninguém que sou loucamente apaixonada pelo Lucas Adon. E, por isso, cada realização dele é minha também. Essa última semana, fez exatamente um ano que começamos a trabalhar juntos nas nuances que, aos poucos, vão dando forma ao novo disco – “Do Luto à Luta” – a ser lançado este semestre.
Como ele também é psicólogo de pessoas em situação de rua, essas duas palavras têm um significado muito forte. O luto e suas cinco fases são traduzidas em cinco canções que vão da negação à aceitação de uma grande perda. A luta traz faixas daquele momento que que você toma consciência do agora, da vida como ela é, e vai pra rua fazer alguma diferença.
Há exatamente um ano, a música “Se Não Fosse Você” ganhava uma versão em vídeo lá no Brasileiríssimos. Por que foi tão especial? A gente já dizia para ele o quanto era linda a canção e, um belo dia, enquanto andávamos de gôndola por Veneza (phynos), resolvemos gravar. No dia do Brasileiríssimos, ele também apresentou a faixa lá na TV Band e foi uma alegria só. Logo, veio a versão oficial com violino e acordeon – e que é possível ouvir em todas as plataformas.
Depois, veio “Desencadeou” com clipe e “Tem, Mas Tá em Falta“, que vai ter vídeo no próximo dia 05 de fevereiro e novamente em primeira mão nos parceiros do Brasileiríssimos.
O que significou exatamente lançar uma música nova e começar a pensar um disco novo?
Embora possa soar determinista, foi a ponta da agulha da bússola.
Como é levar três projetos culturais ao mesmo tempo?
[Lucas Adon solo; a banda de rock Imigrantes Italianos do Século XXI – que toca na FM e está com vários shows por vir; e Pá-Pum – projeto infantil com o pai, Paulo Afonso Tchê, que vai ganhar forma de websérie logo menos]
É tentar me sentir completo na diversidade das minhas nuances. O infantil, o solo e o com a banda. São muitas as coisas a se dizer e muitas as formas.
Isso sem contar o trampo de oito horas por dia. Como faz?
[Psicólogo da UBS da Mooca]
Me desdobro e acabo fazendo pouco em cada um, por isso talvez todos andem apenas um pouquinho por vez.
Existe música sem conflito?
Não existe movimento sem atrito.
Existe dor sem música?
Definitivamente não, porque todo barulho pode ser interpretado como música. E só não existe dor no silêncio.
Sobre o luto: qual o real significado das perdas pra você?
Combustível determinante da existência. O que não mata, engorda.
Se o copo estivesse meio cheio, o que as perdas trazem?
Você quer dizer quando o copo está meio cheio e isso representa a perda? Porque a perda está no foco… Já que, quando se perde algo, ganha-se outro algo.
Sobre a luta: como é acordar todos os dias para lidar com os maiores medos e perrengues das pessoas que vivem em situação de rua?
Desafiador. São pessoas tentando sobreviver ao sistema como as outras, mas na ponta mais fraca. O desafio é trabalhar autonomia de um grupo de pessoas que não tem dinheiro num sistema massacrante.
Quanta poesia existe nisso?
Existe poesia em tudo.
Como é precisar estar no sistema para poder lutar contra ele?
Implodi-lo sempre foi uma estratégia pensada. Mas é apenas mais uma das frentes de batalha.
Qual seu maior conflito?
Me vender no equilíbrio da sobrevivência sem perder a essência. Lutar sem perder a ternura.
E como viver entre conflitos sem pirar?
Respirar e saber o quão necessário é viver o que se consegue incluindo os conflitos. Está acontecendo agora. Saber não vai alterar tanto a realidade assim a não ser que você faça algo para mudar.
Você já tentou ser normal?
Eu sou normal. Foda-se o normal rs
O que você espera da sua música?
Libertação.
[Liberdade LTDA é o nome do primeiro disco do cantor, lançado em 2015 e que pode ser ouvido clicando aqui. A capa do disco é uma foto real ocorrida na manifestação Passe Livre].
Texto: Carol Tavares
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