Afinal, o que tanto te incomoda?

Por um momento – um rápido instante de uns três dias – pensei: chega disso. Vou parar de me posicionar. Entendam, não é tão simples assim lutar. Me perdoem os fortes mas, às vezes, me sinto fraca. Mas estou recebendo uma chuva de amor e força tão grande, que sigo tentando. Este texto aqui – para quem gosta de ler e se informar – é uma das coisas mais nojentas que li hoje. E mais reais.
 
Fiz meu primeiro trabalho voluntário aos 15 anos. De lá para cá, busquei N formas de dar um pouquinho de mim. E eu não estou falando apenas de trabalhar de graça para os amigos, abrigar em casa quando necessário ou coisa assim, uma vez que acredito que ajudar as pessoas em volta é o mínimo para se viver em comunidade. Estou falando de fazer por quem a gente não conhece mesmo.
 
Depois de um tempo, percebi que o assistencialismo é limitado e paliativo. Ele resolve no momento, deixa minha consciência limpa e não muda uma realidade por inteiro. Nesse ponto, passei a optar por candidatos que compactuassem com políticas sociais. Fui para as ruas muitas vezes e ainda vou – sempre tentando fazer mais por aquilo que acredito.
 
Me ocupei da arte. Realizei – nunca sozinha – ações de ocupação de espaços públicos e eventos sem lucro, usando a música como ferramenta de transformação. E só quem está muito perto sabe o quanto foi e é difícil conciliar tudo isso com um emprego tradicional. E não, nunca “mamei nas tetas da Rouanet”. Pelo contrário – lutamos para aprovar muitos projetos e alguns até foram, mas não houve captação. Porque não é fácil assim, não é simples assim.
 
Nesse bolo todo, destaquei o papel da mulher e o quanto somos tão livres e competentes quanto o homem. E como é difícil explicar para alguém que o problema do peito de fora não é o peito de fora, mas a maneira como você olha para o peito de fora. A objetificação do corpo da mulher está no olhar do homem e não no corpo da mulher. Não foi minha amiga que se insinuou para o parente, aos 12 anos de idade. Foi ele que a violentou.
 
Neste momento de tudo à flor da pele, tenho lido coisas tão assustadoras, que fico triste de imaginar que é isso que eles pensam de mim. Me fudi pra caralho pra conseguir viver de acordo com o que acredito e ainda pago preços altos por isso, mas não poderia estar mais feliz: meu marido e eu pagamos nossas contas, conseguimos fazer uma mudança importante em nossa vida e, de quebra, não paramos de estudar.
 
O ponto é: parem. Parem de ofender achando que está tudo bem. Parem de olhar só para si mesmos e achar que tudo bem falar mal de mulher, gay e qualquer pessoa que pense diferente só porque resolveu endeuzar um cara. Eu gosto muito do meu candidato também, mas ele não é um mito. Ele é alguém que estou contratando e pagando com meus impostos para prestar um bom serviço a meu país. E, caso ele não o faça, vou cobrar da mesma maneira. Ele não é minha religião. Parem de usar o voto como desculpa para por para fora todos os seus demônios.

Se você me vir pelada, está tudo bem

Eu tenho uma janela. E ela fica aberta o tempo inteiro – dia, noite, chuva, sol. Não tenho mais medo. Durante muito tempo, minhas janelas ficavam fechadas. Havia medo de bicho, do tempo ruim, de um ladrão. Durante boa parte da minha vida, mantinha ainda uma luz do corredor acesa, pois os fantasmas também pareciam apresentar risco.

Agora, nada disso se faz necessário. Todas as luzes ficam apagadas e, lindo que é, o fato de a janela ficar o tempo inteiro aberta faz com que meu espaço tenha sempre a luz ideal para seguir com todas as atividades – do trabalho diário ao sono. E eu acordo com o sol despertando aos poucos, liberando cada um dos hormônios do meu cérebro de maneira gradativa.

Manter a janela aberta tem seus riscos. Eu me exponho. Exponho meu corpo e alma a quem quer que passe, a quem quer que fique à espreita por trás de sua janela fechada no apartamento da frente. Mas existe liberdade nisso. Eu não tenho mais medo de mostrar as vezes que estou nua, as vezes que estou rindo alto ou chorando em silêncio. Eu não tenho mais medo, porque estou dentro da minha casa e só olha quem quer. Não tenho mais medo de mostrar. Estou segura aqui. E o que o outro faz com o que vê não é problema meu.

Podem entrar pernilongos também. E coça. Incomoda. Muitas vezes, eles vêm e vão sem que eu os veja, apenas sinta o resultado da fome por sangue que eles têm. Mas eu também não ligo mais. Isso passa. E eles nunca ficam. E depois morrem de barriga cheia com aquilo que nunca os pertenceu.

Os fantasmas? Quando comecei a abrir as janelas, percebi que eles nunca puderam me fazer mal algum. Eu aceitei cada um dos fantasmas que andavam comigo. Entendi que eram muito menores do que eu os via com as cortinas cerradas fazendo sombra na luz do corredor. Os fantasmas nada mais eram do que pedidos de socorro. Eles gritavam na minha orelha o tempo inteiro: “abra sua janela! Eu preciso sair”. Mas eu não os ouvia. Eu me assustava e escondia a cabeça embaixo do cobertor. Então, fingia estar dormindo até que isso fosse real. Fazia-me invisível, outro fantasma – de carne e osso.

E, até determinado momento, era real. Eu ficava ali, escondida. Mas não incomodava ninguém. Mesmo assim, vez ou outra o vizinho se pendurava na minha janela fechada para tentar ver o que tinha lá dentro. E eu nunca gritava. Eu me escondia – de novo – de medo – de novo.  Agora, que a janela está aberta, ninguém mais se pendura nela. E muita gente se incomoda pelo simples fato de eu não ter medo dos fantasmas, não ter vergonha de me por nua no mundo.

A nudez só é pecaminosa na cabeça de quem a deseja. O fantasma só é perigoso no coração de quem não o aceita. O mundo só se torna hostil para quem não percebe como os mosquitos – por mais inconvenientes que pareçam – são apenas pequenos seres procurando comida. Dê amor.

Abra suas janelas.

Entenda porque o Bolsonaro é um cara legalzão

No episódio de hoje, tia Abacaxi vai explicar o que está aí no título, didaticamente: entenda porque o Bolsonaro é um cara legalzão.

Sabe aquele cara legalzão do colégio que vive cercado das mesmas pessoas – que o seguem sem questionar e apoiam tudo que ele faz? Este é o Bolsonaro. Isso mesmo! Aquele que desenvolve um relacionamento abusivo com meia dúzia de colegas para não se sentir sozinho.

Aquele cara, que utiliza as fraquezas de outros estudantes para tirar sarro da cara deles e se auto-afirmar o tempo inteiro. Sabe? Aquela pessoa que, depois que fala, você sempre ouve alguém ao fundo dizendo “viiiishe”. Aquele cara legalzão, totalmente vazio de argumentos, que sai gritando, esporrando e diminuindo todo mundo em volta. Este é o Bolsonaro. E isso que ele faz tem um estudo completo: chama-se falácias da comunicação. Elas podem ser de vários tipos. veja alguns:

Usar uma causa que não tem a ver com o assunto para desvalorizar a argumentação – alguém diz que o que você está fazendo é errado e você retruca dizendo: quem é você para falar? Olha seu cabelo!

Desvirtuar o foco do tema para desvalorizar a argumentação – você diz que o país precisa de mais investimento em educação e o amiguinho retruca dizendo: nossa, muito me surpreende você falar de investir em educação quando não aceita que o governo militar volte para dar melhor educação a seus filhos.

Utilizar comparativos para argumentar conclusões falsas ou incertas – a pessoa mostra um gráfico que fala que os oceanos diminuíram no período de 2017 e outro gráfico que conta que os passarinhos viajaram mais para o norte no mesmo período. Portanto, a diminuição dos oceanos é causa da viagem dos passarinhos.

Apelar para o emocional – esta é a clássica: sério que você vai deixar comida no prato com tanta gente passando fome no mundo?

E por aí vai.
Bolsonaro é claramente um conhecedor profundo de falácias e suas mais diversas maneiras de serem utilizadas.

O que eu quero dizer, caro amigo, é que ele precisa fazer isso. Ele precisa gritar e contratacar perguntas como “qual seu plano de governo?” com “não sei como é com sua esposa, mas no meu caso…”. E sabe por quê? Porque ele não tem um plano de governo. Simples assim. Então, ele grita qualquer coisa para um coleguinha atrás dizer “viiiishe” e fim.

Só que, quando esse cara legalzão sai da puberdade e quer assumir o governo de um país, começa a ser perigoso. E quando a turma de guarda-costas cresce para 4 milhões de seres votantes, fica ainda mais perigoso. Entenda, não estamos aqui falando de direita ou esquerda – até porque existe uma certa unanimidade no que diz respeito a este tio legalzão. Estamos falando especificamente de atuação contra os direitos humanos, de contradições, de mentiras, de chamar uma mulher de vagabunda em frente da câmera de vídeo (enquanto representante do poder público), sobre assumir inadimplência e outros crimes simplesmente porque sabe que vai sair impune, sobre achar ok o racismo e a homofobia e, não menos importante, mulher ganhar menos. Ah! E responder esta pergunta com: “mas você ganha menos que ele”. Juro, só faltou mostrar a língua pra Renata Vasconcellos e chamar de ‘sua boba’.

Quando a TV impede o cara de mostrar uma cartilha em rede nacional, é para não vincular qualquer tipo de material a uma campanha política. Não faça uma leitura errada disso. Educação sobre gênero é deveras importante e você, como pai e mãe, deveria saber disso. Seu filho não vai virar nazista porque aprendeu sobre a guerra na escola e não vai se tornar gay porque entendeu o que isso significa (e, pelo amor de Deus não faça a leitura: você está comparando nazismo com identidade de gênero). Mas, caso ele seja gay, vai ser muito menos sofrido se houver um ambiente menos hostil onde ele possa ser quem é. E, caso não seja, vai ser muito mais respeitoso com quem é se entender as coisas pelas quais aquela pessoa está passando. Não sejamos ignorantes.

Facilitar o uso de armas por uma população inteira que não sabe atirar também não é inteligente. Minha tia deu um tiro na própria perna sem querer. Fica a dica. Hoje, no Brasil, a licença para portar uma arma de fogo exige duas coisas básicas e justas: saber atirar e não ter antecedentes criminais. Então, por favor me explique, o que exatamente o Bolsonaro está dizendo quando fala sobre armar a população?

Sabe aquele cara legalzão da escola? Tenho uma surpresa pra você: ele não é legalzão. Ele só pensa em uma coisa: controlar. E vai usar todas as ferramentas que tem pra isso. Sabe quando o namorado ou namorada trai, você está vendo um vídeo da traição, e a pessoa está dizendo: “não fui eu. Alguém quer me prejudicar”? Este é o cara legalzão, este é o Bolsonaro. Não importa que você esteja esfregando na cara dele o que ele falou, ele assume a postura que achar mais conveniente naquele momento e sempre tem alguém para gritar “viiishe” no fundo. Se o país que você quer é esta eterna terceira série C, vote nele. Você está no caminho certo. Pode ter certeza!

Agora, se você deseja democracia, espaços de debate, evolução na educação e em outras políticas públicas ou econômicas, leia e estude sobre os outros candidatos. Entenda o ponto de cada um e o plano de governo que estão oferecendo. Em seguida, leia mais. Entenda se aquilo compactua com o país que você quer. Aí sim, você vota. Isso se chama voto consciente. No final dessa brincadeira, o cara legalzão se forma e você leva a culpa pelas coisas que ele fez. Não fique nesse relacionamento abusivo.

 

 

Esta é uma história melada

*Foto: Pedro Lougan

Dizem que, quando as almas gêmeas se encontram, elas vivem grandes aventuras e provações. Eu já vivi muitas provações com alguns namorados, mas a diferença de ser extensão de alma de alguém é que, quando é a pessoa certa, os desafios em volta só reforçam a parceria e aquilo que um tem pelo outro, a começar pelo carinho, cuidado e respeito.

A gente começou na sofrência, literalmente. Ambos de corações dilacerados
tomando aquela cachaça de nome sugestivo – sim, Sofrência – e dançando É o
Tchan em uma festa de casamento que ficou para história. Um ano e meio depois, seria o nosso.

Naquele dia mesmo, o frio na barriga tomou conta, o sorriso fixou no rosto e o beijo… Ah! O beijo! Intermináveis beijos a cada parada no farol. Uma cola inexplicável que não poderia ser lavada. Aumentou. Colou mais. Virou o casal “que está assim porque é o começo”. Os mesmos gostos, um equilíbrio de forças, um apoio mútuo. Tudo isso leve, livre e grudado. A loucura tomou conta do nosso espaço da maneira mais pura que poderia.

Aí teve a primeira festa de família, onde eu nem sabia o que vestir ou como falar. Veio a foto. Aquela foto que tirou a paz, mas trouxe força. Aquela foto que foi xingada, cuspida e virou uma longa história. A certeza do que se vivia era tanta, que o espaço foi respeitado: se quiser que eu vá, eu vou. Mas ele nunca quis. A gente sempre soube que havia se encontrado e que aquilo não poderia mais se perder. Era a melhor coisa, pela qual nunca tínhamos passado. Era o pote de ouro no fim do arco-iris e seríamos melhores enfrentando as coisas da vida juntos.

Críticas, julgamentos. Lágrimas, gritos. Paciência, perda de paciência. Um ponto final. Os pontos finais são maravilhosos, porque permitem que histórias continuem em um novo parágrafo, em um novo capítulo, em um novo mundo.

Meu ascendente em peixes e minha cigana espuleta não me permitiram sentir menos. Ouvia, via, sentia, sonhava. Conexões que eu não queria acabaram sendo criadas pela frequência energética e cortar esses barbantes interligados não foi exatamente uma das coisas mais fáceis de fazer – pneumonia. Sara pneumonia, asma se instala por meses. Passou. Casei. De branco, de tênis, de lambreta, com quadro de mulher armada no fundo das fotos. Exatamente como eu nunca imaginei. Tudo torto, tudo diferente, tudo  com um amor que eu nem sabia que poderia sentir. E ainda há quem tente explicar o amor. Prefiro nem me arriscar.

Liberdade. Finalmente, laços não queridos desfeitos. Segue o amor, ainda mais forte. E as tomadas de decisão para evolução. Novas críticas, novos julgamentos. Chantagens emocionais intensas. Cada lágrima dele se tornou minha. O egoísmo de quem se diz amigo se materializando de maneira maldosa, com coração cheio de rancor. Mas tinha o outro lado. Sempre tem o outro lado. Para cada coisa ruim desejada, um leque de abraços bons energizando a rotina.

Foi assim no casamento. Mesmo que, depois do altar, eu tenha enfrentado a tradicional família brasileira machista mandando eu passar a lua de mel no alojamento sem terra, enquanto fazia check-in no hotel. Mas os abraços que eu tinha recebido ainda estavam vivos em torno de mim. Foi assim nas últimas 75 milhões de despedidas. Mesmo tendo quem dissesse, com todas as letras, que desejava que a gente não conseguisse alcançar nosso objetivo. Mas, os abraços… Ah! Esses abraços que sempre estão ali, no mesmo lugar, amando e protegendo.

Seguimos com nosso caminho. Fazendo o melhor que podemos e sem querer prejudicar alguém. Se você está lendo isso e deseja o melhor, desejo em dobro. Se você deseja o pior, te de desejo amor. O amor é a maior força construtiva. É real. De dentro pra fora. E nada nem ninguém podem contra ele.

Chegamos a Europa. E, daqui, narramos nossas novas aventuras. Boa sorte para todos nós, que assumimos o movimento da vida e os riscos que ele traz. Afinal, só se molha na chuva quem sai de casa. Sua vida é e sempre será uma consequência das suas escolhas. Você também pode optar pelo ambiente controlado e seguro, mas terá vivido todo seu tempo dentro de um quarto fechado. Entenda, isso não é um problema – somente uma escolha.

Transforma o país inteiro em um puteiro

O que aconteceu com você, sociedade? Que aplaude de pé a esterilização ilegal de uma mulher e defende machista branco rico e bêbado na Rússia?

O que aconteceu com você, mundo? Que se cala diante da criança uniformizada morta pelo blindado enquanto voltava pra casa, mas chora a emoção do menino Neymar e seus milhões?

Você chama de ladrão, bicha e maconheiro. Mas esquece que o bandido é fruto de uma sociedade que você mesmo criou. O que você faria se não tivesse de onde tirar para estudar, comer, habitar, vestir? E ainda ouvisse geral apontando o dedo na tua cara, defendendo a meritocracia e dizendo que é um vagabundo e porque você quer?

O que você faria se o 1% da sociedade que tem dinheiro saindo pela culatra estivesse tirando o pão da sua mesa e pregando os valores da tradicional família brasileira?

Que valores são esses, que estão se importando mais com quem cada um transa do que com a comida que chega à mesa? Que valores são esses que chamam maconheiro de vagabundo e defendem o tráfico com unhas e dentes, porque “se legalizar, todo mundo faz”. “Se permitir o aborto, todo mundo aborta”. Meu querido, todo mundo faz – fuma, aborta, dá o que é dele. E não é porque é proibido que isso não acontece. Só que é por ser proibido que mais gente morre. É uma questão de saúde pública e sua mente limitada a uma falsa moralidade simplesmente não consegue enxergar.

O que mais você não vê?

Você ajuda a tirar a primeira presidente mulher do país do governo, na base de um golpe declarado em rede nacional, e continua fingindo que não vê. Você para seu dia de trabalho para ver os jogos, mas posta foto dizendo “sou brasileiro e vou trabalhar” quando o povo vai à rua em greve, pedir pelos seus direitos trabalhistas, que fazem diferença sim no fim do mês.

Você finge que não vê o desemprego crescendo, Marielles morrendo e polícia militar ganhando força na base do pipoco, enquanto a passagem do busão aumenta, a educação diminui e os cortes seguem – na saúde, na cultura, nos benefícios sociais que são pagos por impostos e acabam virando caixa dois.

Acorda, lava o rosto e vai pra rua. Não é o verde e o amarelo que vão salvar sua história, mas sim “estancar essa sangria” que desatou, arrancou tudo que você tinha e te deu apenas o suficiente para te fazer acreditar que você “fez por merecer”.

O machismo na história, na reprodução de padrões e na comunidade LGBT

É muito louco pensar como está nosso condicionamento. Vivemos uma sociedade patriarcal e machista desde a Mesopotâmia. Sim! Segundo consta a história, nossos queridos pré-históricos viviam em um ambiente igualitário que, inclusive, conseguiu desenvolver um sistema de comunidade, tecnologia e agricultura (não exatamente nesta ordem) com base em direitos e obrigações iguais.

Em algum momento, o Código de Hamurabi resolveu anular os direitos das mulheres mesopotâmicas e validar o repúdio dos maridos a elas – caso fossem estéreis ou tivessem comportamentos considerados inapropriados.

O negócio começou a degringolar. Inventou-se que família correta é aquela com marido, esposa e filhos. A Igreja fica acima do rei, o casamento é uma ótima fonte de negócios e a garantia de manter a riqueza numa mesma família – não importa quantos anos passem. Não existe mais o “todos somos um”. Comunidade passa a ser uma casa fechada com o modelo tradicional padrão e proteção a qualquer custo.

A representação do núcleo família passa a determinar a maneira como agimos em sociedade e no mundo. Eu, homem, protejo os meus a qualquer custo – incluindo na lista anular o direito de fala e posicionamento da minha mulher -, esqueço que fazemos parte de um todo e crio territórios. Quero garantir mais dinheiro pro “sangue do meu sangue” – esquecendo também que, em algum momento da história, todos tivemos o mesmo sangue – e, para tanto, preciso conquistar riquezas. Essas riquezas vêm por meio de colonização, escravidão escrachada ou velada, petróleo. Eu crio guerras.

Você percebe a bola de neve que uma disputa babaca de poder faz? Você percebeu quantos padrões nós criamos e não sabemos nem o porquê? Fui longe no raciocínio para explicar que o machismo não tem exatamente gênero: ele é a reprodução de um padrão social criado em algum momento do nosso processo “evolutivo” para saciar um desejo por ter tudo e estar acima. Por isso, o cantor Victor Cavalcanti e eu criamos este pequeno manifesto abaixo, que marca também o lançamento do segundo vídeo da série “Fita Cacete” e convida à reflexão.

Até quando você vai continuar repetindo padrões destrutivos?

“Lugar de discurso é quando temos propriedade sobre o que estamos falando – seja pela vivência propriamente dita ou por experiências que deem contexto para tocar no assunto. A população LGBT precisa cada vez mais desse tipo de representação e, principalmente, estar unida nessa tarefa.

Torna-se ainda importante que os representantes do segmento se coloquem como seres humanos em relação uns aos outros e não encaixem seus relacionamentos em padrões machistas comuns à sociedade como um todo, resultando em agressões psicológicas e físicas.

Para além de casais que prefiram um tipo de sexo específico, cada vez mais é possível observar relações abusivas em toda a comunidade, incluindo uma parcela grande da LGBT. Tanto é que as estatísticas apontam para um número bem alto de pornografia focada em violência.

Não é sobre julgamentos. Não é sobre conservadorismo. É sobre respeito. É sobre perguntar ao parceirx o que ele quer, o que ele gosta e como ele prefere que a relação seja conduzida. Violência é violência e não precisa de tapa na cara para ser real. Uma agressão começa nos detalhes e, independente de gênero ou escolha de parceirx, o machismo ainda está muito presente e precisa ser eliminado.

Este vídeo é sobre isso.”

ENTREVISTA: Leticia Sábio entre tarô, casamento e Sandy & Junior

São Paulo tem tantas opções de shows, passeios e eventos de todos os tipos, que sobreviver aqui de música é uma loucura diária e imprevisível. Uma das pessoas que deixou de lado a estabilidade de um escritório para entrar na empreitada é a Letícia Sábio. A cantora lançou o disco “Hortelã” e seguiu com inúmeros projetos cheios de talento.

Crescida nos anos 90, ela agora resolveu resgatar a década e criou um show todo delicado e cheio dos hits que você vai começar a cantar na cabeça assim que eu disser o nome do tributo: Sandy e Junior [documentário no fim do post]. “Você desperdiçoooou”… “Se a Lenda dessa paaaixãoooo”… Cantou, não cantou? Vai rolar dia 16 de junho e estarei no gargarejo atrapalhando a cantora com minha bela voz. Para saber mais, clique aqui e dá uma lidinha na entrevista que fizemos.

Você já quis ser amiga da Sandy? [Eu já].
Sim, super! Inclusive quando eu era criança e pré-adolescente, eu sonhei várias vez que ela fazia parte do meu grupo de amigas da escola, eu tinha quatro melhores amigas ela era a quinta. Em um dos sonhos eu desabafava com ela, contava segredos hahaha. Até hoje eu sinto que ela ainda vai ser minha amiga.

O quanto tudo isso influenciou sua personalidade musical hoje?
Eu sempre fui uma menina romântica, tinha amores platônicos na escola, chorava de amor (peixes com ascendente em peixes e mercúrio em peixes, né? Haha) e as canções deles acalentavam o meu coraçãozinho romântico. Além de todo esse repertório romântico, a voz da Sandy dava certinho no meu tom de voz, então era delicioso cantar sozinha em casa todas aquelas canções.

Mas, quando eu penso na minha herança musical, coisas que cresci ouvindo, Sandy e Júnior era definitivamente destoante. Eu cresci ouvindo MPB, meu pai tinha pilhas de discos de vinil e de CDs de artistas como Fagner, Zé Ramalho, Amelinha, Raul Seixas, Cassia Eller, Gal Costa, Caetano, Gil, Marisa Monte e eu ouvia e cantava todos eles. Eu acredito que eu tenha uma boa mistura de influências musicais, mas S&J, até por conta do meu momento pré-adolescente romântica, dizia tudo o que eu queria dizer naquela época rs.

Você acha que chegou naquele ponto que a cultura dos anos 90 vira Cult e a galera perde a vergonha de assumir o que gostava?
Eu acredito em um conjunto de fatores. Nós estamos vivendo um momento em que as pessoas estão realmente falando tudo o que pensam, dialogando e sendo transparentes nas redes sociais, “porque ali você pode ser sincero, que ninguém vai te julgar”… Não, espera… hahaha. Outro ponto é que a galera que era pré-adolescente nos anos 90 está bem adulta agora e, quando a gente vira adulto, não tem vergonha das coisas e fica com espírito de nostalgia diária. Claro que deve ter vários outros fatores que eu não saberia explicar, mas que a cultura dos anos 90 agora tá ficando cult, isso é real e só o campo mórfico poderia explicar.

Você já teve vergonha de gostar de alguma coisa?
Acho que não. Eu gostava quando as pessoas me zoavam por gostar de Sandy e Júnior, era o meu momento de lembrar que eles já desceram na boquinha da garrafa hahaha, eu achava engraçado tudo isso. Quando eu realmente me irritava com as zoeiras, falava a minha lista de motivos que me levavam a gostar deles, aí a pessoa ficava com vergonha, porque eu estava falando sério.

Além deste show maravilhoso, você tem um disco autoral lançado, um projeto de música pra casamento, trabalha com marketing, tarô e astrologia. Como dá conta?
Eu definitivamente não sei como eu dou conta, são 23h45 e eu estou aqui respondendo essa entrevista e, segundos antes, eu estava respondendo e-mails. Eu até gosto de estar com a agenda cheia, mas eu acho que eu só faço esse monte de coisa porque eu não consigo gostar de uma coisa só. Então, de um lado eu ganho dinheiro, de outro eu faço o que eu amo dar dinheiro e, do outro, eu faço coisas que eu gosto mesmo sem ganhar dinheiro, porque seria muito triste não fazê-las.

Tem disco novo em vista? Ou pelo menos alguma música?
Disco novo, por enquanto não, mas músicas novas sim. Tenho algumas que eu escrevi depois que lancei o “Hortelã”. Então, neste momento, estou gravando o single “Um Cabideiro a Mais” e a intenção é lançar com clipe.

Com quem você queria cantar? Pode brisar 🙂
Nossa, com a Sandy seria pedir demais? Haha Mas eu queria cantar também com a Marisa Monte, com o Arnaldo Antunes, com o Jeneci e com um menino que conheci esse dias e é a coisa mais maravilhosa da vida, chama Rafinha Acústico ❤

Qual foi a sua catarse musical até o momento?
Tudo o que eu aprendi até agora e principalmente sobre mim foi a maior catarse. Esses dois últimos anos foi a maior catarse, pois o universo musical é imenso e só ser artista ou só ser cantora e compositora não é suficiente para que você possa ser inserido profissionalmente nesse mercado. Existem milhares de cenários possíveis para que você trabalhe com música, qual você vai escolher? Entre ser um empreendedor ou não, entre trabalhar com entregas ou não, entre dar aulas ou não, entre ser freelancer ou não… Nossa! São infinitas possibilidades. E entender aonde eu me encaixo dentro desse universo infinito: essa para mim foi a minha maior catarse.

O que a vida profissional tem pra você este ano, segundo suas interseções holísticas?
Minha trajetória profissional tem sido intensa nesses últimos dois anos – com a minha saída do mundo corporativo, minha formação musical e minha experimentação no universo autoral. Este ano, holisticamente falando, eu sinto que estou mais no meu caminho, com objetivos mais conectados com o meu propósito e com os meus valores. O meu projeto de música para casamento, o Música de Jardim, tem ganhado cada vez mais espaço dentro de mim e tem sido bem recebido pelo mercado (e pelo Universo). Sem dúvida ele é o meu foco profissional neste momento.

O que mais doeu na música?
O que me dói até hoje é ver que o produto musical, o produto cultural em geral, ou é idolatrado ou é tratado como lixo. O Brasil não vê o valor da cultura, só vê o valor do status. Somente a fama é valorizada. O artista é detentor do maior potencial de uma sociedade, que é base e a riqueza dela, a cultura. Nosso país (e muitos outros) não utiliza a cultura da forma correta simplesmente porque ela tem um valor intangível e isso não tem valor para a maioria, ou melhor, ainda não perceberam o valor.

O que mais te sorriu na música?
O que mais me sorriu na música é ver que, quando conseguimos ver a poeira da competição e da dor de não dar certo abaixar, enxergamos apenas o que é, na sua forma mais pura: pessoas querendo expressar suas dores, suas glórias e seus amores. Isso é lindo demais, porque a música em sua forma mais pura é amor.

Fofa, porém ferozmente produtiva. Essa dicotomia te deixa louca?
Assim que eu saí do mundo corporativo eu desacelerei drasticamente, embora eu não quisesse, mas eu precisava me entender, precisava descobrir o que eu queria fazer profissionalmente a partir daquele momento. Eu vivi dez anos no mundo corporativo e ser produtiva/ ter metas já fazia parte de mim, mas eu queria alcançar metas que eu não estava emocionalmente preparada para alcançar naquele momento, então eu precisei desacelerar.

Com o tempo, eu fui entendendo aonde eu queria estar profissionalmente (e ainda estou entendendo haha). Percebi que ser ferozmente produtiva fazia parte de quem eu era também e que isso não era algo ruim (como um doença que eu peguei no mundo corporativo haha), era algo que me pertencia. Eu queria ser empreendedora e eu queria cantar o amor… E tudo isso que eu queria me fazia ser ferozmente produtiva e fofa. E essa dicotomia antes me deixava louca, mas agora eu lido bem melhor, porque essa dualidade é quem eu sou e não tem como negar quem somos, né?

 

Como 13 Reasons Why ferrou com a minha cabeça

Todas sofremos assédio. Todas sofremos assédio todos os dias. E todas conhecemos ou somos alguém que já sofreu uma violência de fato. A gente cala. A gente não leva adiante. A gente finge levar a vida adiante com essa história guardada numa caixinha bem lá no fundo, que acessamos vez ou outra, às escondidas, com a culpa de termos sido violentadas. Com a culpa de saber que alguém foi e não ter feito nada. Paralisia. Normatização da violência. Todas nos calamos.

Não importa o quão desconstruídas somos. Quando bate à porta, simplesmente não sabemos o que fazer. E, quando fazemos, temos toda uma sociedade para nos julgar, perguntar “como você se colocou nessa situação”? A Sheri, no seriado, diz uma das melhores frases: “sério que você está perguntando isso? Uma garota não se coloca nessa situação, ela só está lá se divertindo. Os caras criam essa situação”.

A série fala de bullying como um todo, de violências diversas – LGBTQ+, mulheres, nerds, pseudopunks e mais. E ferrou com a minha cabeça. Nada que você não veja todos os dias por aí. Nada que a gente não ouça casos na internet, leia notícias no jornal ou crie vídeos no Youtube. Nada mais absurdo que um cara se masturbando no ônibus em cima de uma mulher e sendo liberado pelo juiz – ah! Não! Espera! Isso não foi na série, foi em São Paulo.

Quando a Jout Jout chama as mulheres a fazerem um escândalo, ela não está sendo nazi ou emocional demais. Quantas mulheres aqui já se sentiram acuadas nas mais diversas situações? Em momentos recentes, eu estava em ambiente de trabalho e precisei dizer para mim mesma que era totalmente normal um senhor que eu não conhecia colocar a mão na minha perna enquanto a gente conversava sobre o mercado. Eu nunca expus isso a ninguém. Eu tive muita vergonha e era “só” uma mão desconhecida na minha coxa.

Imagine ser violada sexualmente. Principalmente quando é por alguém que você confia, ama e acredita. Imagine quanto tempo isso não fica rondando a sua cabeça e dizendo: a culpa é sua, você fez por merecer, quem mandou tomar cerveja?. Não é simples, não é fácil.

E não são as mulheres que precisam se proteger dos caras. São os caras que simplesmente não precisam fazer isso. Não devem. Consentimento é algo bem simples de entender: eu digo se eu quero e eu digo se eu não quero. Se eu não digo nada, não faça. Posso simplesmente estar paralisada. Não sou uma donzela, princesinha que não sabe dizer quando quer transar ou quando quer que você encoste em mim. Nesse ponto, é importante frisar: parem de criar suas filhas como princesas! Elas precisam conhecer o próprio corpo, saber o que querem, o que não querem e até onde permitem que outra pessoa avance.

E, por favor, não deixemos de fazer um escândalo. Precisamos internalizar isso até pararmos de ficar paralisadas diante de situações constrangedoras. “Tire a mão da minha perna” – é o tipo de frase que não pode ficar só no pensamento. A gente ainda tem muito a desenvolver nesse sentido. E não tenhamos vergonha de denunciar os agressores, na hora que acontece. Vamos conversar mais. Umas com as outras. E, juntas, fazermos algo por nós mesmas.

Por que torcer pelo outro é tão difícil?

Não adianta pedir desculpa depois. Desculpa em excesso é muleta pra fazer merda. Quando você acerta uma pedra em alguém, você não cometeu um erro. Você acertou. Então, cuidado para onde mira quando vai jogar.

Por que tudo isso? Já percebeu como é mais fácil ter amigos quando você está na fossa? Religiosamente se prega o inverso – que os amigos verdadeiros você descobre quando fica mal. Não é isso, não, malandro. Quando você fica mal, os que já são seus amigos verdadeiros apoiam você e dão umas belas broncas necessárias. Paralelo a isso, outras pessoas usam o momento para se auto afirmar dando conselhos e sendo útil. Normal, faz parte do ser humano.

Agora, experimenta ficar feliz. É um tal de “tá se achando” de um lado, de conselho errado do outro… Que dá pra fazer uma feira. Freud diz que a mulher tem inveja do pênis do homem – longe de mim querer discutir psicanálise mas, né… Foi um homem que disse isso, o que já me deixa incrédula por esse simples não-lugar de discurso.

Outras conversas aqui em casa nos fazem discutir muito a origem da inveja em si e da maldade. O sri sri Prem Baba disse que a inveja vem justamente do fato de um ser humano não se encontrar no mundo. Quando ele não sabe onde está ou não tem autoconhecimento suficiente para entender do que faz parte, essa pessoa começa a criar conflitos externos, com outras pessoas – às vezes, sem até saber o porquê. Isso se dá pela vontade de estar no lugar do outro: a inveja ou o ciúme.

O Wikipedia também fala um pouco disso: “A inveja pode ser definida como o sentimento de frustração e rancor gerado perante uma vontade não realizada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual”. Falando em pênis, a mesma Wikipedia conta que o pequeno grande Napoleão Bonaparte dizia que “a inveja é um atestado de inferioridade”.

Agora, mais do que a inveja, bom mesmo é aquele gostinho de ver alguém que estava muito bem se dando mal o suficiente pra você levantar a placa de “eu avisei”, certo? Não!  Errado! Muito errado! Por mais que esses impulsos sejam inerentes até a macacos, por favor, não faça isso. Você tem polegar opositor e cérebro desenvolvido. Não reze para o amiguinho não conseguir aquilo que anseia. Pior que isso, não transforme sua inveja em maldade.

Não projete no colega as frustrações daquilo que você não tem. Nobreza, please. Abrace o outro e diga: “gostaria de estar no seu lugar, mas admiro o que conseguiu e fico feliz com isso”. Não é pecado você desejar algo que é do outro, mas tome consciência disso, aceite e lute pelo que é seu. Também não crie situações horríveis para validar o quanto seu amigo que está se dando bem é uma pessoa horrível. Ele não é. Você está sendo uma pessoa horrível por não ouvir o que ele tem a dizer, por não considerar o histórico de luta e conquista dele e por simplesmente não viver sua vida e deixar que o outro viva a dele em paz.

Uma reportagem da Superinteressante contou ainda que “as pessoas com maior propensão à inveja em nível patológico são aquelas que têm graves falhas ou lesões nos lobos frontais do cérebro, regiões responsáveis pelo reconhecimento das regras e pelo respeito aos outros”. RECONHECIMENTO DAS REGRAS E PELO RESPEITO AOS OUTROS. A parte boa da história? Use a energia de sua inveja para conquistar coisas melhores ao invés de prejudicar o colega. Todo mundo vibrando no amor – e literalmente no chakra do coração – torna o universo muito mais produtivo, traz paz e crescimento.

Go ahead.

Não! Isso não é urgente

Precisamos falar sobre urgência. Mesmo. Em um momento onde só o modo avião pode salvar sua qualidade de vida, bom senso é primordial. Em 2013, meu avô/ padrinho/ segundo pai faleceu e pernotei o domingo para segunda no cemitério. De manhã, foi realizado o enterro e voltei para casa à tarde. Naquele mesmo dia, uma banda inteira estava ensaiando na minha casa para o show que faríamos dia seguinte, no Sesc. Era um evento importante e deixei minha urgência do luto de lado para trabalhar. Porque é isso que a necessidade faz.

Um amigo querido faleceu, em janeiro de 2017. Ele estava em dois empregos e virando noite. Em uma das voltas para casa, o coração não aguentou. Ele tinha minha idade e o choque foi grande. O descanso dele era urgente, mas ele abriu mão disso – porque é o que a necessidade faz.

Desses episódios para cá, decidi mudar meu posicionamento diante das pseudo-urgências e necessidades, pela minha saúde. De lá pra cá, recebo reclamações diárias de não atender ao telefone, que está sempre no silencioso. Se você acha exagero, vou explicar o porquê.

Trabalho com produção de conteúdo, leitura de tarô e divulgação. Isso exige que eu esteja 100% focada no trabalho para realizar uma entrega de qualidade. Fora Whatsapp, inbox e e-mail, meu telefone começa a tocar 8h – e assim segue de hora em hora. Entenda, eu não tenho condições físicas de realizar meu trabalho e fazer call center. É humanamente impossível. Fora isso, eu como, transo, faço cocô, participo de reuniões, vou a festas de família, eventos sociais… Como qualquer ser humano comum. E quando eu estou realizando qualquer uma dessas coisas, preciso e quero estar 100% ali. O “agora” é minha urgência, até porque eu me recuso a continuar tendo crises de ansiedade.

Vivemos em uma sociedade que leva a sério demais a questão do tempo real de interação e isso é doente. Isso vem nos adoecendo aos poucos e tirando da gente a motivação para estar aqui e agora sendo uma pessoa melhor no que estamos realizando, consciente do momento. Vejo cada vez mais textos cheios de erros sendo postados como notícias, cada vez mais fake news sendo disseminadas porque simplesmente “não há tempo” de questionar o que lê e mais pessoas frustradas – já que usam o “falar imediatamente” como ferramenta paliativa para sensação de produção e acabam projetando no outro as realizações que deveriam ser próprias. Traduzindo: falar o tempo todo com muita  gente faz parecer que estamos  produzindo algo, quando na verdade estamos apenas falando com um monte  de gente. Paranoia também aumenta: “por que ele não me atende?”/ “se não falarmos agora, o trabalho todo vai dar errado” e por aí vai.

Entenda: uma vez que você confiou a mim o trabalho, eu sou a primeira pessoa a querer fazer dar certo. Confie. Acredite que o outro está desempenhando seu papel independente de prestar contas a cada segundo para você. Seja organizado o suficiente para conseguir traçar metas e status por e-mail e, quando houver dúvidas sobre como deve seguir, você sempre pode voltar ao histórico para relembrar o combinado e as datas. Também não precisa enviar cinco avisos em todas as redes sociais quando mandar um e-mail. Ele será respondido, com certeza, por ordem de prioridade.

Esteja 100% naquele momento e você nunca vai precisar perguntar dez vezes a mesma coisa, criar expectativas fora da realidade ou frustrar-se com o que só iria acontecer na sua cabeça e não rolou por motivos óbvios. Entenda que o tempo não muda para satisfazer suas vontades e as pessoas não são obrigadas a estar 24 horas à sua disposição, porque elas possuem rotinas, vidas próprias e maneiras de executar as coisas diferentes das suas. Aceite, respire e evite estresse. O resultado é mais importante que o processo.

Há um ano, lançamos o clipe de “Desencadeou”, do Lucas Adon, e a MTV gostou – mas precisava do ANCINE. O registro deve ser feito por produtoras com cadastros específicos que eu não tinha. Começou ali a saga pela documentação, com auxílio de amigos que o fizeram pela simples vontade de ver dar certo. Pra mim, aquilo era urgente. Mas não era, estava longe disso. E eu soube respirar. Valeu a pena. Esperamos e a estreia está marcada para este domingo, dia 06 de maio, às 9h. Entenda: não importa o tamanho do sonho e o que aquilo representa para você. Respeitar o tempo das coisas e o espaço das outras pessoas é primordial e traz bons resultados. Por isso, quando quiser ligar, pergunte a si mesmo: é urgente de verdade?

Quando aprendermos o que os grandes gurus da história quiseram dizer com “estar presente”, nosso pequeno mundo será muito menos transtornado e nossa consciência estará muito mais clarificada. Pratiquemos.